quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O ciclo da contradição

Certo dia, no centro de Teresina, quando as ruas ainda eram coloridas e congestionadas pelo comércio informal, conheci alguém sentado na porta da Igreja Nossa Senhora do Amparo. Amparado pelas ruas, esse alguém não era um alguém qualquer, era um alguém ninguém, daqueles que ninguém percebe. E se percebe, finge que não é ninguém mesmo que seja alguém.

Eu fotografava e ele dizia que sabia conversar sobre tudo, “sou inteligente, se você quiser falo até de energia nuclear”. E eu só confirmava com entusiasmo, “é mesmo?”. Dessa forma, fizemos um acordo espontâneo. Enquanto eu o fotografava ele me falava, enquanto ele me falava eu o fotografava e ouvia.


No meio da conversa, ele me contou algo que não pude esquecer, diferente do seu nome que não mais recordo:

- Minha família me abandonou por causa da bebida.
- E por que o senhor não para de beber?
- Porque minha família me abandonou.

Assim, continuamos a alimentar o mesmo vício por um s
istema que nos abandona.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ninguém pede para nascer



Um dia desses, o tema do quadro “Você ao vivo”, do Jornal Piauí TV 1ª Edição, da Tv Clube, afiliada da rede globo, debateu sobre a Lei Maria da Penha.

No quadro, a Delegada Vilma Alves, especialista em direitos da mulher, foi convidada para responder algumas perguntas de telespectadores.

- Tenho uma amiga que é motivo de chacota no colégio só porque ela é feia. Ela poderia fazer uma denuncia de abuso psicológico na delegacia da mulher?

Prontamente a delegada responde: Sim, essa é uma forma de abuso psicológico, pois ninguém pede para nascer.

Confortante, não?

No mundo das aparências, quem não tem cara bonita, assim como ditam os padrões de beleza, cai de cara no chão. É dessa forma que a mídia comercial apresenta o debate de gênero:

SE LIGUE! Você é mulher. Portanto deve ganhar bem, se vestir, maquiar e se enfeitar de forma elegante, ser exuberante e feminina, para ser aceita. É para isso que existe os esquadrões da moda, para transformar algumas Betis Feias em pessoas dez anos mais jovens. Caso contrário... será discriminada.

Agora, se você não quer se adequar aos padrões de beleza e não pediu para nascer, existe uma lei que protege as mulheres que são vítimas de abuso, mas só as que não pediram para nascer, pois você não é uma cidadã, nem é um ser humano, é só mais uma mulher feia, mulambenta, pobre e por isso não deve ser respeitada. Portanto, se você escolheu nascer, aí foi uma opção sua ser o que é.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Não adianta chorar sobre o diploma derrubado


Durante anos e anos o trabalhador da área de comunicação é explorado pelo cruel Mercado de Trabalho. Só agora, boa parte dos estudantes e profissionais formados em jornalismo vieram se atentar para a precarização do trabalho.

Pasmem com o que digo a vocês, todas as mazelas que prevêem com a queda da obrigatoriedade do diploma, já ocorria. Acreditam? Exploração do estagiário como mão de obra barata, terceirização de jornalistas contratados através de empresas prestadoras de serviços para pagar abaixo do piso salarial, instabilidade no mercado de trabalho, submissão aos patrões donos das empresas de comunicação, profissionais técnicos, diplomados e mal qualificados atuando como jornalistas...

Por isso não adianta chorar sobre o diploma derrubado sem reivindicar o que de fato é o mais importante. Diploma não é e nunca foi garantia de uma formação de qualidade, muito menos de uma regulamentação que ofereça segurança e boas condições de trabalho aos jornalistas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Rumação mal feita

O GAF, Grupo de Apoio Fraterno, é uma instituição que atende por telefone pessoas com problemas emocionais, principalmente pessoas com risco de suicídio.

A sigla, GAF, condiz perfeitamente com a logo do grupo, uma verdadeira gafe. O sentido ambíguo da imagem, da abertura para que mentes pervertidas visualizem, no que poderia ser um gesto fraterno de duas mãos juntas em forma de coração, um gesto obsceno retratando é... digamos... para o bom entendedor do piauiês, o descascar de uma mandioca.




domingo, 16 de agosto de 2009

Brincadeira de criança é coisa séria

Vivemos em um mundo levado pelas mesmices, padrões, conformismos e omissões.
ALÔ BRASIL!!! Eis que um grito rompe o silêncio.


QUE PALHAÇADA É ESSA?? Vocifera a voz furiosa da REPRESSÃO.


Não é permitido, não nos permitimos, não nos p
ermitem se mexer. E o som do grito é silenciado pelo barulho das escolhas esperadas normais.

O c
irco pegou fogo e o palhaço deu sinal
Acuda, acuda, acuda a Bandeira Nacional
ALÔ BRASIL!!!

Quem se mecher saiu

sábado, 15 de agosto de 2009

Chapeuzinho é fichinha

Vou contar a história de um menino que ia visitar a casa da vovó. É isso mesmo, um meniNO! Não errei o gênero do personagem principal da história, pois essa não é mais uma versão da fábula da Chapeuzinho Vermelho. A situação da chapeuzinho é fácil diante da desse garoto.

Enquanto ela caminha contente por um longo caminho deserto, ele percorre preocupado, um curto caminho habitado. Em vez de ter por perto um lobo mal falante, há um quarteirão de quatro senhoras apertadoras de bochecha.

Não existe moral, bosque, nem floresta, tudo acontece em uma pequena cidade do interior. Portanto, só há duas semelhanças entre as duas histórias, o caminho para a casa da vovó e as duas opções de trajeto, o mais longo e o mais curto. Pelo primeiro era mais seguro e sem tantos obstáculos, já pelo outro...

Para ir para a casa da vovó o menino passava por cinco esquinas. Ele caminhava tranqüilo, com longas passadas e balançando a cabeça de um lado para o outro como se ninguém estivesse reparando seu estranho jeito de andar. Até q
ue uma voz fina, alta e gasguita lhe desperta do transe:

- MEU AMIGUINHO!! VENHA CÁ!! PAf! PAf! PAF! – Três fortes tapas lhe acertam as costas junto a um apertão arrochado. TUDO BEM COM VOCÊ? – perguntou a senhora que morava na segunda esquina. Ela era a mais violenta de todas.

- Tudo – o menino responde timidamente.

- HAHAHAHA!! MAS É MUITO LINDO. E ME DIGA UMA COISA, VOCÊ VAI PRA ONDE?

- Vou pra casa de vovó.

- HAHAHAHAHAHA!!! PAF! PAF! PAF! – desta vez, o menino desequilibra com os tapas.

Ufa! Depois de muita bofetada e pouca conversa, após 15 minutos é possível continuar o percurso. Passa uma casa, na outra encontra Dona Bilina, uma simpática velhinha de 80 anos, a qual sempre pede a benção. A partir desse ponto, ele se prepara para enfrentar as outras três senhoras que perturbam seu trajeto.


O menino faz uma careta bem feia e apressa o passo, espera que assim ninguém o reconheça. Idéia boba, não adianta, a mulher do olho de vidro percebe sua presença.


- Meu remedim!!!

- oi – o menino a responde com um sorriso sem graça
- Eu to com uma dor de cabeça. Deixa eu dar um xero – antes que ele responda, a mulher do olho de vidro se abaixa e dá uma longa fungada na cabeça do menino, com o pretexto de curar a suposta dor.


Agora só restam duas. Uma tem problem
a de memória e não reconhece quem é o menino. Alívio? Não. É justamente esse o problema, ela sempre o para pra perguntar: Como é seu nome? E é filho de quem? Qual Luis?

A outra, habita a última casa do quarteirão. Sempre insiste em repetir a mesma historinha constrangedora – “Nunca me esqueço quando tu bem pequeninim falou: Eu num nado como peixe, porque peixe nada balançando a bundinha” – depois dá uma sacudidela e sorrir.


Enfim, não há mais nada para atrapalh
ar, constranger, atrasar, bater ou apertar. Basta atravessar a calçada de butecos, pegar o atalho por dentro da budega do Seu Raimundo e chegar ao destino final. A casa de Vovó.

Enfim

Chega de guardar para mim minhas pequenas grandes idéias. Escancarei as portas da minha mente e não mais darei descarga nos meus pensamentos.

Este é um blog de idéias jogadas para entreter momentos de ócio. Charges, desenhos, fotos, trocadilhos infames, textos? Pode ter, pode não ter... vareia.