segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Assistencialismo forçado


Toda vez que compro crédito de celular na Big Ben, uma grande rede nacional de farmácia, a vendedora me pergunta se eu não gostaria de deixar o meu troco para ajudar as crianças com câncer. Parece até maldade, toda vez eu nego, chega a ser constrangedor – “poxa eu não ajudei as crianças com câncer, que tipo de pessoa sou eu?” – mas eu não vou cair nessa conversinha fiada.

Não estou dizendo que eles não encaminham a doação. Realmente acredito que eles fazem isso. Mas, se a Big Ben quer fazer “boa ação”, por que eles não tiram o dinheiro do próprio bolso deles? Já não basta explorarem a população super-faturando o preço dos remédios, cobrando altas taxas de lucro, muitas vezes mais de 400% acima do preço original?


Mesmo quando essas empresas querem posar de bom samaritano, a sede de lucro delas é tão insaciável que elas preferem aumentar a exploração contra o consumidor, do que tirar uma porcentagem mínima do seu lucro anual pra poder praticar a bendita “boa ação”. Que diga a bondosa rede globo, levando uma vez por ano esperança para milhares de crianças, enquanto uma vez por mês paga um salário próximo a cinco milhões pra um apresentador besta ficar falando besteira pra gente no dia de domingo.

Eu sei que ninguém é obrigado a doar, caso contrário não seria doação, mas quem se sente bem em negar ajuda as crianças, pobres, deficientes ou com câncer?

- Vamos ajudar as crianças com câncer?
- Não, é que... (não posso nem mentir dizendo que não tenho trocado, a mulher já está com meu troco na mão)


Por esse ponto de vista, é pior do que dizer não. Eu vou arrancar da mão da mulher o dinheiro que poderia ser para a doação. Que feio, não? Eu bem que poderia ser uma pessoa mais solidária.

Entretanto, existem diferenças entre assistencialismo e solidariedade. Mesmo reconhecendo que o primeiro amenize certas dificuldades a curto prazo, não podemos confundir um com o outro. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

No texto “Valores de um Lutador do Povo”, Ademar Bogo explica isso bem melhor do que eu. “A solidariedade representa atitudes completamente inversas a colaboração. Deve ser a ação CONSCIENTE de pessoas da mesma classe na busca de alternativas CONJUNTAS para se buscar soluções DEFINITIVAS e para TODOS”.

Viu como faz diferença?

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